CARTA CULTURAL “O GERÚNDIO VÔMITO DA POLÍTICA DE CANTANHEDE”
Ainda, em
viagem pela Europa (Portugal e França), por ironia do destino e exatamente em
Auvers-sur-Oiser, cidade francesa onde morreu e foi enterrado Vicent Van Gogh
tive uma notícia nada surpreendente. Quando da minha visita aos últimos passos
do pintor holandês, fui comunicado que haveria uma ação judicial contra o
espetáculo teatral “CAFÉ COM VAN GOGH” realizado pelo Grupo Fundo de Pote
formado por jovens atores amadores, nos dias 10, 11 e 12 de agosto deste ano,
no Centro Cultural de Cantanhede. A ação foi ajuizada pela coligação “UNIÃO
PARA O PROGRESSO” comandada pelo secretário de articulação política do governo
do estado do Maranhão, Sr. Hildo Augusto da Rocha Neto.
Luis Carlos Amaral - Auvers-sur-Oiser, França, 05 de novembro de 2012. |
Prezados
senhores e senhoras,
A cultura
neste mundo, em qualquer tempo e em qualquer que seja a esfera de poder, sempre
foi retratada como uma virtude dos promotores, artistas e intelectuais e como
sendo uma escápula das políticas públicas para manter um vínculo entre o poder
dominante e a essência cultural. Se não vejamos: quando o rei francês Francisco
I convocou Leonardo da Vinci para trabalhar em seus últimos momentos de vida a
favor de sua majestade; quando o rei da Espanha Felipe IV convocou Diego
Velàsquez para trabalhar seus sulcos de grandeza real ou quando a monarquia
brasileira aproveitou o talento de Jean-Baptiste Debret para expressar os
exuberantes hábitos do Brasil, o planeta respirou o que seria uma constante
afirmação do chamado “mecenas”, que tem sua origem ligada às práticas adotadas
pelo rico estadista romano Caio Cílnio Mecenas, que com gosto refinado pelas
artes promoveu várias ações no campo cultural e empresta até hoje, essa
denominação aos que patrocinam a cultura e o ensino.
Em
Cantanhede, houve de minha parte, enquanto integrante do Grupo Fundo de Pote a
primeira tentativa de buscar apoio de determinadas pessoas que se dispusessem a
fazer a tal prática de Caio Mecenas. Percorri o comércio e recorri aos
companheiros de trabalho para buscar os recursos para a realização do CAFÉ COM
VAN GOGH, a primeira experiência nessa linha de pensamento da história de
Cantanhede. Tendo o respaldo da realização com sucesso do CAFÉ COM GONÇALVES
DIAS realizado em setembro de 2011, montei minha bicicleta e sai pela cidade. A
aceitação da ideia foi muita boa, mas o projeto seria uma grande produção para
os padrões locais. Busquei os parceiros para a realização. A prefeitura cedeu o
local (Centro Cultura de Cantanhede) e o espaço para divulgação. Mandei
confeccionar 900 ingressos e sai vendendo com os integrantes do Grupo Fundo de
Pote pelo valor de R$ 10,00. Entre mortos, feridos e apurados, hoje, ainda devo
ao Comercial Leal (fornecimento de refrigerantes), Dudu Construções (venda de
material elétrico e ferro), Izabel Variedades (fornecimento de roupas e outros
objetos), Tcnorural (venda de um forno de farinha e uma gaiola) e ao operário
irmão Leitinho (responsável pela construção da estrutura de ferro), e ainda ao
cartão de crédito de meu pai pela compra de TNT e outros argumentos.
Mais de
vinte parceiros participaram do evento entre comerciantes, funcionários
públicos, empresas e pessoas que mesmo sem contribuir com dinheiro deram uma
grande parcela de ajuda durante a
montagem e os três dias do espetáculo.
O fato de
hoje, está sendo chamado pela justiça para prestar esclarecimentos pela
realização do espetáculo, que para o Sr. Hildo Rocha teria sido uma obra
eleitoreira não me surpreende. O que me deixa estarrecido é o fato do prefeito
de Cantanhede por duas vezes e atualmente secretário de estado, com tantos
poderes não ter procurado apoiar em nada o espetáculo ou ter comprado um
ingresso sequer para contribuir com o talento dos jovens locais.
O Grupo
Fundo de Pote nasceu da vontade de jovens cantanhedenses em fazer teatro e eu
apenas faço a minha parte com a minha visão de mundo, mesmo não tendo nenhuma
formação teatral. Este ano, tive várias conquistas, mas a realização de chegar
ao túmulo do pintor Van Gogh foi sem dúvida uma prova de como é possível, por
meio do tetro fazer um grupo de jovens talentosos brilhar e levar conhecimento
a população.
A minha vida
tem várias vertentes e a que mais tenho orgulho é exatamente a de ter respaldo
para escrever esta carta.
Seria Van
Gogh o culpado do Sr. Hildo Rocha ter perdido mais uma eleição em Cantanhede
com a derrota de sua mulher?
Seria Van
Gogh o culpado do Sr. Hildo Rocha ainda não ter compreendido que o tempo de sua
liderança política em Cantanhede já acabou?
Prefiro
acreditar que Van Gogh, que teve uma vida conturbada entre a sua fantástica arte
e a loucura emprestou o seu talento para que esses jovens de Cantanhede
continuem sonhando que é possível fazer teatro mesmo que uns não queiram.
E finalmente
sugiro ao Sr. Hildo Rocha que assista ao filme TEMPOS DE PAZ de Daniel Filho. Quem
sabe assim, ele possa rever alguns conceitos de político, homem ou mero
expectador.
O grupo
Fundo de Pote trabalha na produção de mais um espetáculo o “CAFÉ COM BARRA
NOVA” com previsão de estreia para abril de 2013. Contaremos mais uma vez com
os mecenas de Cantanhede.
Por: Luiz Carlos
Amaral
Membro do
Grupo Fundo de Pote
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