Roberto Rocha escreve sobre Neiva Moreira


O pilão da resistência








Por: Roberto Rocha

Neiva Moreira simboliza a alma inconformada do Maranhão. Sua história é o avesso do triunfante e medíocre carreirismo que domina a cena política maranhense.

Homem de idéias e convicções, sertanejo criado no interior mais pobre do nosso Estado, transcendeu esse pálido destino e tornou-se um militante cosmopolita, com os olhos voltados para as lutas de libertação especialmente na África e Oriente Médio.

Neiva estava fadado a tornar-se a grande liderança política do Estado quando o golpe militar o mandou para o exílio no primeiro ato de cassação de direitos, juntamente com Goulart, Prestes e Brizola. Alma de jornalista, lançou-se à empreitada de disseminar idéias, de fazer o contraponto das opiniões dominantes através dos Cadernos do Terceiro Mundo. Tarefa quase impossível em um mundo ainda não integrado por redes sociais, boicotado pela hegemonia das grandes agências de notícias, os Cadernos foram um milagre de perseverança e obstinação. Nas suas páginas toda uma geração encontrou os relatos da tenaz resistência ao apartheid na África do Sul, das guerras civis em Angola e Moçambique ou da trágica realidade dos conflitos no Oriente Médio. Os Cadernos deram voz e vez para as narrativas locais, a história dos derrotados, o testemunho da esperança. Neiva privou dos grandes líderes como Nasser, Samora Machel, Arafat, e tantos outros que fizeram história.

Como político, desde 1950 disputou e venceu eleições, tendo participado ativamente das grandes rebeliões da década de 50 que desaguaram no levante popular que paralisou São Luis e marcou definitivamente a sua trajetória como liderança.

Eleito deputado federal, presidiu a Comissão de Transferência da Câmara Federal para Brasília e teve papel decisivo na ação da Frente Parlamentar Nacionalista, que ajudou a fundar em 1956, em defesa de uma plataforma intransigente de interesse nacional. Em suas memórias, O pilão da madrugada, Neiva relata o ânimo pioneiro com que se construiu a nova capital do país.

Sua coerente história de vida o levou a presidir nacionalmente o PDT, pela confiança que sempre mereceu de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e tantos outros com os quais fundou o partido. Dentre eles, dedicou uma amizade fraterna a Jackson Lago, companheiro de vida e de ideais.

Ainda menino viu a coluna Prestes atravessar as cercanias de Nova Iorque, sua cidade natal, lembrança que o marcou profundamente. Desde cedo sua vida foi forjada em combates, dos quais nunca fugiu. Lembro de meu pai dizer-me que Neiva já era, para a geração dele, uma referência na história do Maranhão. Muitos não compartilhavam de suas idéias, marcadas pelo ideal socialista, mas jamais negaram a retidão de sua vida e a paixão que verteu nas lutas políticas.

Essa é a história de um maranhense que precisa ser melhor conhecido pelos seus conterrâneos. Um maranhense ilustre, perseguido pela vilania dos golpistas, quando ainda desfrutava do vigor físico para o combate, e recentemente, no crepúsculo de uma longa vida, perseguido pela infâmia covarde da mais baixa política, ao ter negado, pela governadora, inscrever o seu nome em uma escola estadual.

Que ninguém duvide que o que passará para a história será o exemplo de vida de Neiva Moreira.

confira no blog Robert Lobato
(Blog robert lobato)

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